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domingo, 1 de maio de 2016

Os Miseráveis -Victor Hugo


A edição que eu li, editora Martin Claret, tradução Regina Célia de Oliveira.

O romance se passa entre 1815 e 1832. Época chamada pelo historiador inglês, Eric Hobsbawm, de Era das Revoluções. Victor Hugo descreve a Batalha de Waterloo ocorrida no Governo dos 100 Dias, quando Napoleão sai derrotado , o que precipita sua queda e a restauração da Monarquia dos Bourbons.  A história se ambienta, em sua maior parte, justamente nessa França restaurada, onde há um  predomínio na sociedade francesa da aristocracia fundiária, fiel às ideias do Antigo Regime. Nas últimas partes do livro, já sob a monarquia constitucionalista burguesa de Luís Filipe I, ele  descreve os motins ( Victor Hugo chama de insurreição)  ocorridos em Paris.

Nessa obra Victor Hugo mostra todo o seu gênio e sua delicadeza ao relatar  as injustiças que sofrem os miseráveis na França daquele tempo. Ele conta a história de Jean Valjean, um homem que  recebeu a pena das galés (trabalhos forçados), por ter roubado um pão para matar a fome dos sobrinhos. O forçado sempre tentava fugir e sua pena, a cada tentativa de fuga só aumentava, chegando a dezenove anos. Ao sair  das galés, Valjaen recebe um documento de ex forçado perigoso, e não conseguia trabalho,  comida e nem abrigo, pois as pessoas tinham medo e preconceito contra um ex forçado. Até que ele encontra um bispo que  mudou a sua vida e sua alma. Jean muda de nome e consegue fazer fortuna, e  se torna um homem de bem, que ajuda toda uma cidade.
A grande questão do livro é a moral,  a lei e a justiça;  é injusto um homem passar dezenove anos em trabalhos forçados por ter roubado apenas um pão, mas era a lei da época, e Jean Valjean se tonou um homem de muita consciência, ele se torturava para poder fazer a coisa mais certa possível, algumas vezes fora da lei, mas dentro da moral, ou da ética. 
Jean Valjean, com outro nome chegou a prefeito da cidade em que vivia e em uma cidade vizinha um outro homem seria julgado no lugar dele, como reincidente  em roubo e ex forçado, todos acreditavam que o homem era o antigo forçado, até mesmo Javert, um inspetor de justiça muito honesto e obtuso no cumprimento da lei,  que tinha o trabalho de seguir Jean Valjean para ver se ele estava sem cometer crimes. O verdadeiro  Jean Valjean não poderia deixar  aquilo acontecer e foi ao tribunal de justiça da outra cidade se entregar, mas ninguém acreditou, pois um homem de bem,um burguês dono de industria, um prefeito jamais seria um criminoso, chamaram até um médico, ficaram tão chocados com a revelação que deixaram o ex forçado sair, mas quando todos voltaram a si, soltaram o réu e Javert sai ao encalço  de Jean Valjean.
Mas Jean, tinha uma missão,  ajudar Fantine, mais uma personagem miserável, uma mãe solteira que foi enganada pelo pai da criança, um jovem estudante rico, que tinha o costume de se divertir com operárias, junto com os amigos. Porém já era tarde, Fantine desce até o ultimo degrau de degradação que uma mulher poderia chegar naquela época, perde o emprego na Fábrica, vende os cabelos e os dentes da frente para poder mandar o dinheiro para filha que vivia em uma hospedaria, e se prostitui, Valjean tenta salva-lá .
Fantine do musical de Hollywood 

E surge um outro personagem central que é Cosette, filha de Fantine, que vive com um casal de exploradores, a menina trabalhava muito, não comia direito e passava frio. Jean Valjean adota essa menina, e dá uma boa vida para ela, com educação e boas roupas.

Jean Valjean e Cosette do musical de Hollywood.
Um outro personagem importante é Marius, neto de um realista (defende a monarquia) com boa condição de vida. Só que ao crescer descobre seu pai foi um herói da Batalha de Waterloo, se torna bonapartista  e republicano e entra em conflito com avô e sai de casa.
Depois de alguns anos fora de casa conhece Cosette, agora uma moça, e se apaixona por ela.
Marius participa  dos Motins em Paris e quase morreu, seu avô de tanta felicidade que ele estava vivo, grita: Viva a República!
Victor Hugo toca num ponto muito triste e desconcertante, que são os meninos de rua de Paris, representados por Gavroche, um menino que me lembra Peter Pan. Mas a vida deles é muito sofrida, e tentavam se virar do jeito que dava. É muito chocante a descrição da fome, do frio e do desamparo que esses meninos e meninas sofriam, desamparo primeiro da família e depois do Estado e a indiferença da sociedade.
Gavroche do musical de Hollywood .

Uma passagem das que mais me tocou, foram de dois meninos abandonados, com frio e fome, 4 e 7 anos,e se esconderam no zoológico e um burguês com seu filho preferiu dar o resto de pão doce ao cisne do que aos meninos. Esse incidente resume o livro, é a indiferença da sociedade diante dos miseráveis.

Termino com uma frase do próprio Victor Hugo sobre esse livro maravilhoso: 
"Enquanto, por efeito de leis e costumes, houver proscrição social, forçando a existência, em plena civilização, de verdadeiros infernos, e desvirtuando, por humana fatalidade, um destino por natureza divino; enquanto os três problemas do século - a degradação do homem pelo proletariado, a prostituição da mulher pela fome, e a atrofia da criança pela ignorância - não forem resolvidos; enquanto houver lugares onde seja possível a asfixia social; em outras palavras, e de um ponto de vista mais amplo ainda, enquanto sobre a terra houver ignorância e miséria, livros como este não serão inúteis."

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